quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um sonho de Pierrot e Um beijo de Arlequim.






Era uma vez uma Colombina. Era uma vez um Pierrot. Era uma vez um Arlequim. Ah, o Arlequim. Cheirava a paixão, tinha nos olhos o fogo que arde, que queima sem se ver ou sentir. E sabia disso. Sabia do seu poder, e podemos dizer que sabia até mesmo de sua lábia. E tinha manejo com as mulheres. Seria capaz de ter a que quisesse em sua cama, à sua espera. Fazia uso disso quando lhe convinha, e lhe confesso, era a hora.
Agora junte algumas gotas de lágrima, uma pitada de sensibilidade e um farto punhado de ingenuidade. Eis o Pierrot. Aquele bobo apaixonado, mal amado talvez. Mas que guarda no peito e no olhar a esperança de encontrar quem ele espera. Experiência ele não tinha, talento não se pode afirmar, mas como disse, ele tinha esperança. Ele sabia alcançar a alma, e sabia se valer disso. Sabia, pode acreditar.
Colombina. Figura altiva, sedutora. Tinha um olhar diferente, de mulher. Ela era diferente. Dizem que ela tinha o poder de hipnotizar, de seduzir, de virar a cabeça. Era da pá virada, é. Não que isso a tornasse má pessoa, mas seus desejos as vezes falavam tão alto que emudeciam as vozes da razão. Razão? Era Carnaval, e quem precisa de razão?





Era segunda-feira de Carnaval e o Baile de Máscaras parecia feito de magia. O Pierrot apaixonado, não pode acompanhar sua Colombina, que mascarada circulava no salão exalando seu odor de quem sabe - ou não - o que quer.
- Me desculpe, não foi minha intenção derrubar sua taça. Posso lhe trazer outra.
- Tudo bem, é Carnaval. - e se abriu o sorriso de Colombina.
- Perdoe-me a ousadia, mas posso saber seu nome?
- Colombina. - e saiu, com o mesmo sorriso.
E ficou o Arlequim intrigado, e passou a noite procurando aquela Colombia, aquele sorriso. Nem que fosse por aquela noite, ele precisava tê-la em seus braços. As Máscaras se confundiam, e após abordar sem sucesso diversar senhoritas, o Arlequim desistiu. E se foi, para o jardim, de onde seria mais fácil acessar a rua e caminhar sem rumo, sem Colombina.





- Não é de hoje que eu ouço dizer que Arlequim não desiste fácil.
Virou-se o Arlequim sem acreditar que ouvia aquela voz novamente: - Perdoe-me novamente, mas, se eu não ousar agora, posso me arrepender por toda a vida.
E ambos se entregaram em um beijo que durou toda aquela noite. Era como se já se conhecessem há séculos, anos luz, e precisavam que seus olhos se cruzassem novamente.
Era terça-feira de Carnaval, e foram para o baile, Colombina e Pierrot. Exatamente, Pierrot dessa vez, fez questão de acompanhá-la. E ela, agia com naturalidade. Talvez pra ela tudo fosse natural.
- Boa noite, Colombina. - disse o Arlequim.
- Boa noite. - o Pierrot fez questão de ser o mais enxuto e seco possível. Conhecia o Arlequim e sabia do que ele era capaz.
- Podemos conversar? - indagou o Arlequim.
E como se soprasse rosas, a Colombina respondeu: - Podemos, os três.
- Eu não tenho assuntos a tratar com esse Arlequim, Colombina.
- Pierrot, preciso que saiba que nos beijamos ontem.
- O quê?! - a cabeça do Pierrot parecia pesar uma tonelada, e nada mais fazia sentido.
- Pierrot, eu não sou só um Arlequim conquistador. Me apaixonei pela sua Colombina, e agora ela será minha. - juro, essas palavras pareciam punhais no coração do Pierrot.
- Não é bem assim, Arlequim. Ouçam. - disse a Colombina - Preciso dos carinhos do Pierrot, e dos beijos do Arlequim. Um só não me completaria, descobri que o amor floresce da união de ambos. Meu corpo pertence ao Arlequim, e minha alma pertence ao Pierrot. Nada mais é meu. Não sou dona de mim, de nada.
- Não posso viver sem você. Eu sempre fui um Pierrot triste, mal amado. O destino do Pierrot é chorar pelo amor da Colombina.
- E eu? Ai de mim, atado nesse amor do qual não consigo sair. Já é madrugada, mas sei que amanhã não será um novo dia, nunca terei você, Colombina, só pra mim.
- Eu peço, entendam. Se vocês se unissem em um só corpo, nosso amor morreria. Preciso do céu e da terra, da água e do fogo. Te amo, Pierrot. Te quero, Arlequim. É carnaval, tudo vira luz. A quarta feira já vem, e vai transformar tudo em cinzas. O amor do Arlequim, do Pierrot e da Colombina.
- Não precisa ser assim. - concluem todos.
- Teremos o amor em sua plenitude, sem barreiras, mentiras ou ilusões. Um é sol, outro é lua, e assim se completam. Porque a história do amor pode escrever-se assim: Um sonho de Pierrot e Um beijo de Arlequim!






Livre adaptação.
Créditos: Menotti Del Picchia

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