quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Arrumando a casa.

Hoje eu decidi arrumar a casa. Essas escolhas nunca são fáceis, não é tão simples quanto parece. Não consiste apenas em jogar as tralhas fora. As vezes nos apegamos as tralhas. As vezes as amamos. Você fazia parte do meu armário, da minha casa, das minhas tralhas, da minha vida. Eu sei que vou ficar na merda depois de tudo isso, mas eu simplesmente não posso mais te deixar ocupar aquela gaveta. Eu a quero vazia, aberta. Essa chuva na janela está me incomodando e eu já não sei mais se o que digo faz sentido.
Eu queria que você entendesse que estava tudo arrumado quando você chegou e agora, agora mesmo, neste momento, estou procurando o que é meu nesses escombros. Está um pouco difícil andar entre ruínas, as vezes corto os pés, me machuco, sangro. Eu não te culpo por isso, não pelas feridas nos meus pés. Eu te responsabilizo pela bagunça que fez, pelas dúzias de bombas que derrubaram os meus alicerces. Preciso te dizer tudo o que estava engasgado. Preciso jogar os papéis roídos pelas traças na sua cara. Preciso que você veja o que fez. Todas as noites, eu colocava no lugar, um tijolo que havia caído. Você não percebeu, eu tomei o cuidado de fazê-lo enquanto você dormia. Aqueles pedaços de parede que caíram quando eu descobri que não era só a minha casa que havia sido invadida por você, também foram reconstruídos na madrugada. Deu trabalho, confesso. Aqueles calos nas mãos eram por isso, tive que esconder. Era preciso varrer bastante. Entrava muita poeira, quando você fugia e deixava a janela aberta. Eu te disse: - Pode ir pela porta, só passa a chave.
Eu vou sair dessa postura passiva, eu vou parar de catar o seu lixo, remendar suas camisas. Saia da minha casa, não peço mais. Não há mais nada seu aqui. Nem eu. Deixe a cópia da chave debaixo do tapete, pague a conta da padaria e esqueça o caminho da minha casa. Agora ela é minha, agora eu sou minha. Mas faça isso rápido, preciso arrumar a casa.

- (A casa, O caos)

Ps 1.: Psicografia, hm.
Ps 2.: Dedico e agradeço à: Mariana Mata de Assis - hoje e sempre.

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